sábado, 10 de março de 2012

Invasão de Mestres

A invasão dos Mestres


RESGATE DO MUAY THAI

"Recentemente nosso ex-aluno e grande amigo, Felipe Silva, que atualmente reside e luta na França e Suíça, treinando com Ajarn PuPadNoi, esteve nos visitando e treinando com a equipe. Durante uma sessão de vídeos de eventos da Europa, outro amigo, ex-integrante da equipe, mas que mantém um grande intercâmbio e amizade, fez o seguinte comentário: “Que Muay Thai de nível!!!”. No que fomos unânimes em replicar - Era um bom KickBoxing, com nuances de Muay Thai, mas aquilo com certeza não era Muay Thai.

Para dar prosseguimento vamos definir alguns conceitos importantes, como
a diferença entre esporte de combate e arte marcial. Arte Marcial tem como
objetivo principal defesa pessoal, com implementação de filosofia e como modo
de vida, mesmo que haja competição interna entre os praticantes da modalidade.

Já os esportes de combate, visam exclusivamente às competições, onde os atletas são submetidos a uma série de regras em comum para lutar.
Vamos exemplificar: Um praticante de Karate, Kung Fu, Muay Thai, Taekwondo,
etc. pode competir sob as regras do KickBoxing, porém não participa das
competições da outra modalidade.


O motivo disso tudo é deixar claro que Muay Thai é uma ARTE MARCIAL, não é
um esporte de combate. Para ser instrutor, professor, mestre e etc, é
imprescindível uma genealogia, um histórico dentro da arte, ou seja, ter raízes
e mais ainda, tais raízes tem que ter suas origens lá na Tailândia.


A realidade é que o Muay Thai demonstrou sua eficácia em combate, onde suas
técnicas e metodologias foram parcialmente incorporadas em diversas
modalidades de combate, como KickBoxing, MMA e etc. Propiciando o surgimento de aproveitadores da fama e ‘status' do nome MUAY THAI. Um outro agravante dentro desse contexto é que vários ainda se levantam proclamando-se como‘donos' da modalidade; sem nunca ter treinado, competido, sequer teve contato com qualquer aspecto da Arte marcial, muito menos no que concerne à legalidade que envolve a modalidade desde a sua origem em solo Tailandês.


Muay Thai com faixa?

Várias pessoas têm se declarado mestres, apresentam linhagens estranhas,
muitas vezes até cômicas, parecem não se dar conta do ridículo a que estão
se expondo. Outras emitem certificados, diplomas, representações e afins;
literalmente iludindo incautos ou leigos, aliciando pessoas que de boa fé,
acreditam nessas estripulias que aparentam verdade.



Muay Thai ? Não é de nosso feitio efetuar comparações, pois creio fielmente que as artes marciais sofram um processo de seleção natural, onde os autênticos
e verídicos continuam no sacerdócio de divulgar sua modalidade, enquanto
os aproveitadores da ‘onda' logo se dispersam, não conseguem manter o
foco, ou ainda melhor, são desmascarados no transcorrer das suas peripécias,
uma vez que não conseguem manter a farsa devido à falta de raízes e cabedal
técnico.




No final do ano de 2008 houve um trabalho evangelístico com uma equipe
evangélica brasileira de jogadores de futebol, pelo Sudeste da Ásia, onde tivemos o prazer de acompanhar, passando por alguns paises como Laos, Camboja, MyanMar, Vietnã e lógico Tailândia. Em paralelo as clínicas de futebol, pudemos visitar alguns centros de treinamento de artes marciais locais, como o
Bokator (Camboja); LethWei (MyanMar); Tham Thê (Vietnã) e Muay Lao ( Laos).

Fomos bem recebidos e efetuamos um excelente intercâmbio. Devido as raízes
históricas de tais modalidades, são muito similares ao Muay Boran, tendo inclusive o lutador Pinch, Cambojano praticante de Bokator e Muay Thai, como campeão de uma província da Tailândia.




Nem por isso, mesmo sendo agraciado com certificados honoríficos e afins,
declaramo-nos representantes de quaisquer modalidade, nunca! Isso é no
mínimo um descaso com a modalidade e seus representantes e mais ainda
em relação ao público em geral, que crédulo, está praticando algo que não
condiz com a realidade de uma arte marcial.


Alguém já viu um Mestre de Taekwondo emitir certificado de Karatê?

Ou um mestre de Kung Fu autorizar um instrutor dar aulas de Jiu Jitsu?

E um treinador de Boxe ministrar seminários de Judô?

Pois é, a não ser que a pessoa em questão tenha sua formação em ambas as modalidades e tenha técnica suficiente para tal, do contrário não se justificam algumas situações ABSURDAS com que temos nos deparado, como por exemplo: Campeões vitalícios de Thai Boxing; Único representante de organização ‘X' fora da Tailândia; Campeão Mundial por equipe e individual em - Bangkok (Eu estava lá, não vi nada disso - será que estou tão velho assim que já não lembro mais?).

Em fevereiro de 2009 efetuamos um seminário sobre arbitragens e sobre armas
Thai (Krabi Krabong), quando tivemos contato com um ‘pseudo-mestre' de Muay
Boran, alegando ser o único ‘9º Dan' fora da Tailândia, também o único estrangeiro conhecedor de todos os ‘katas' do Boran.

Desculpem...mas que “viagem” desse cidadão...vamos por partes: Kata, Dan etc são nomenclaturas específicas de lutas japonesas.

Tive a grata satisfação de treinar Boran – Pahuyuth e Krabi com o Grande Mestre
Samai e NUNCA vi ou ouvi tais disparates. O cidadão em questão, ainda ficou
indignado com meu alerta a ele sobre tal confusão. Mas para um leigo, o apelo do que ele falava soa fortíssimo e o colocava como autoridade sobre a modalidade, que pelo pouco avaliado durante o seminário, ele nunca deve ter pisado em uma academia de arte marcial Tailandesa. Tanto que pediu um certificado sem os dizeres no verso “Não autoriza ministrar aulas da modalidade” ; que é óbvio não obteve, pois é de praxe essa prática em nossos certificados de seminários.


Perigosa tal situação, pois pessoas estão se matriculando, ficando a mercê de tais ‘mestres' sem ter a devida noção que, além de serem enganadas, a integridade física está sendo colocada em risco. Aluno NÃO é saco de pancada ambulante, nem sparring, muito menos meio de descarregar stress de aluno graduado. Todo e qualquer aluno, seja iniciante, seja avançado ou mesmo instrutor, merece o devido respeito à pessoa e ao seu dinheiro, pois tudo isso tem um custo, e normalmente esses supostos mestres cobram caríssimo.

No site www.muaythai.com.br vemos o excelente artigo do Mestre Guilherme
Bringel sobre o assunto, que traduz muito disso que estamos tratando.


Situações preocupantes como essas, assim como outras do tipo professor de
Tai Chi ministrando seminários e formando instrutores de Muay Thai;

Técnico de Boxe dando clínicas de Clinch de Boxe Thai; Seminários de um dia formando professor de Boxe Tailandês. O outroé fotografado junto com um Tailandês e afixa na academia dizendo-se ser representante oficial do dito Thai para a localidade. Detalhe o cidadão nem sequer sabe falar direito o nome do Tailandês e ainda dá entrevista colocando o nome do Thai todo errado; isso eu posso dizer com certeza, pois quando o referido mestre Thai, mesmo sendo Mestre de um outro professor amigo, quando ministrou palestras aqui no Brasil, elas foram ministradas em nossa academia.



Por fim o mais preocupante, temos visto nas competições, lutadores sem o
mínimo preparo subirem ao ringue, sem conhecimento de regras e regulamentos, muito menos ainda das técnicas inerentes ao Muay Thai, totalmente iludidos sobre a eficiência do que vão aplicar na luta. Em outra situação durante uma competição da FEPLAM, onde atuávamos como juiz e também com atletas da equipe competindo, um treinador de outra equipe comentou que: “ Hoje em dia qualquer um leva seus atletas para lutar lá fora ”.
Graças aos esforços de muitos dos precursores da modalidade no Brasil, isso é
uma grande verdade, qualquer um pode ir lutar em um evento no exterior e
vice-versa. O detalhe é que sem representatividade nenhuma! Pode gerar status
de competição internacional e tudo mais, porém não é cartel, não gera pontos
para ranking; sinceramente, no final das contas é um cartel de lutas pessoal
‘bonitinho', conhecido como perfumaria , nada mais. Diferente daqueles lutadores sérios, que saem do Brasil direcionados e bem intencionados, tem seus títulos reconhecidos por uma entidade internacional; tem titularidade no ranking
(aliás, de fácil consulta pela Internet); tem espaço aberto em centros de
treinamento sérios e respeitáveis e o mais gratificante, são eventos oficiais do
verdadeiro Muay Thai.

O motivo de tudo isso é um alerta sobre o direcionamento do Muay Thai. O Brasil
tem uma enormidade de atletas de altíssimo nível; material humano excelente
para a modalidade, mas que tem que ser respeitado como tal e valorizar os
verdadeiros lutadores e professores de Muay Thai, que sabem o sacrifício e a
honra de fazer parte de uma modalidade milenar e altamente eficiente em sua
essência que está muito além dos meros interesses egocêntricos de disputa
política financeira.




Muay Thai é muito mais do que competição, como dissemos anteriormente,  é
uma arte marcial com um propósito e formador de caráter e moral.
Reiteramos como em outros artigos, procure sempre uma academia séria, com
linhagem e respeito na formação de seus integrantes.


Professores capacitados e qualificados; conheça o trabalho deles antes de se
matricular; trace seu objetivo na modalidade, lembre-se sempre que competição
não é o objetivo principal
e sim o seu bem estar físico, psíquico e social. Valorize
seu dinheiro e seu bem estar, pesquise e busque treinar com pessoas sérias e
competentes, que realmente lhe trarão a essência do Muay Thai e o direcionarão
no caminho da modalidade.


Agradecemos a paciência e atenção dos amigos. Críticas e sugestões são bem vindas:

Edson Jose de Souza - www.ctfighter.com e também sobre nosso trabalho
no link entrevistas do site: www.muaythai.com.br/pg_entrevista_edson.htm, que posteriormente será inserido nesse blog também, com as devidas correções e inserções.